sexta-feira, 30 de outubro de 2009

O DESPERTAR


Você já assistiu o filme Desventuras em série? Sua história é baseada na série de livros Desventuras em Série, lançados no Brasil pela Companhia das Letras, que narra as aventuras (ou desventuras) dos irmãos Boudelaire, Violet, Klaus e Sunny, que se tornam órfãos após um terrível incêndio que matou seus pais e destruiu a mansão em que viviam, forçando-os a viver com seu tio, o maléfico Conde Olaf (Jim Carrey).


Como o próprio nome sugere, eles passam por maus bocados. No entanto, o que mais me intrigou, foi que a cada situação difícil, o irmão mais velho - assíduo leitor - buscava nos seus conhecimentos, adquiridos pela leitura, formas de solucionar os problemas. Era como se sua mente fosse uma enorme biblioteca, que de acordo com a demanda, acionava um dispositivo para buscar a resposta certa no livro certo. Incrível!


Sinto por ter descoberto o prazer da leitura tardiamente. Somente após meu ingresso à faculdade(aos vinte e cinco anos). Alguns mestres me apresentaram a literatura de uma maneira tão fascinante que não pude resistir. Na verdade esse deleite não é nada fácil de se explicar. Até então, só me lembrava de alguns livros da série vaga-lume, dentre eles "Joãozinho, o dono da porquinha preta"(este me fez viajar nas letras), mas logo que tive contato com grandes escritores, uma torrente de novas emoções tomaram conta de mim. Eles tornaram-se meus amigos e grandes conselheiros. Alguns morreram há séculos, mas são meus amigos e continuam vivos, imortalizados através de seu legado literário.


Ler é libertar-se. O próprio Mestre dos mestres é assertivo ao dizer que conhecendo a verdade, esta nos libertaria. Quem lê desenvolve o senso crítico e não é levado por vãs filosofias. Aprende a refletir. Quando não pensamos, outras pessoas pensam por nós e nos escravizam. Mas lembre-se: muitos "escravagistas modernos" podem não gostar nadinha disso. Entretanto, a luz do saber refletida através dos livros dá firmeza, constância e perseverança.


Como mencionei, comecei a provar deste deleite aos vinte e cinco anos. Não que me achasse senil, no entanto, imagino o tempo que perdi. Já poderia há tempos ter experimentado tantas outras iguarias literárias...Mas deixa isso pra lá. Hoje aproveito boa parte do meu tempo disponível para ler. Sento aos pés dos meus mestres e ouço-os através dos olhos.


Serei eternamente grato àqueles que me incentivaram direta ou indiretamente a esse caminho tão prazeroso. Agradeço aos mestres e mestras e tantos outros e outras aos quais minha gratidão alcançar.


"E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará."


terça-feira, 27 de outubro de 2009

A EFEMERIDADE DA VIDA


A morte é incômoda. Desde os primórdios intriga a humanidade. É tabu. Assunto nem sempre bem vindo nas rodas de conversa. Amedronta. É desconfortável. Afazeres urgem quando o danado do papo surge. E outros tantos emudecem diante de sua insistência. É prosa inconveniente que aparece sem convite.

Mas a morte está "bem viva" entre nós. Incoerente e injusta com a nossa percepção de tempo e justiça. Jovens, velhos, ricos e pobres haverão de encontrá-la. A maior certeza humana, pois todos atravessaremos o rio. O que há depois da travessia? O grande mistério! Este pode ser explicado pela religião, e cada uma dá a sua interpretação conforme seu conjunto de crenças. Outros, nem tão religiosos, buscam sua própria explicação. Mas é mistério...

Talvez por causa desse "tabu" ou da lacuna inerente a ela, ou até mesmo pela dificuldade em admiti-la exista em nosso calendário um dia separado, que não deveria ser de tristeza, mas de reflexão. Percepção real de que do pó viemos e a ele retornaremos. Prova da efemeridade humana. As Sagradas Escrituras nos dizem há séculos: "Toda carne é como a erva, e toda a sua glória , como a flor da erva; seca-se a erva, e cai a sua flor."

O fato é que não devemos temê-la, pois a morte é a melhor conselheira. Desnuda nossas limitações. Nivela os seres humanos. Não poderemos vencê-la, pelo menos nessa vida. Enquanto lutamos ela ri em silêncio, esperando nossa rendição diante de sua sabedoria. Percebo que o seu maior legado a nós que ainda vivemos, é que de fato aprendamos a viver.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

O SEMEADOR


Eu leciono há dois anos, e às vezes questiono a relevância do meu trabalho. Sou professor de Religião, disciplina nem sempre estimada. Na verdade, outras matérias são valorizadas em detrimento do Ensino Religioso.


Não culpo pessoas. Creio eu, que esse é um legado antigo. Converso com amigos, e a grande maioria até se arrepia das enfadonhas aulas de Religião. Desenhos para colorir, textos arcaicos para ler, musiquinhas para cantarolar... Ufa!


No entanto, não desanimo. Lembro-me da dona Dita. Uma senhora que morava lá no bairro Lageado de Araçaíba, interior de São Paulo. Seus cabelos, alvos como a neve. Muita sabedoria de quem já tinha anos de experiência na estrada da vida. Na verdade, nem sei se ela ainda vive, mas, muitas das coisas que aprendi com a velhinha permanecem vivas em meu coração.


Uma tarde dona Dita estava separando alguns pinhões para plantar. Pinhão é a semente do pinheiro, que lá (no interior) conhecemos como Araucária. Ele dá na ponta dos galhos da árvore, numa bola espinhenta. Dá um trabalhão pra apanhar, mas depois de madurinho, assado ou cozido, fica uma delícia! O problema é que até que a árvore possa produzir leva muitos anos.


Na minha ignorância questionei a velha: "Dona Dita, por que semear esses pinhões se nem vamos colher esses frutos?". Ela me disse algo que jamais esquecerei: "Certamente eu não comerei desses frutos. Já estou velha e não terei muito mais tempo de vida. Entretanto, daqui vinte, trinta anos, pessoas colherão frutos daquilo que um dia eu plantei."


É dona Dita, aprendi muito com a senhora. Sei que por mais demorado que possa ser o resultado do meu labor, cabe a mim semear.


Dedico-me, grato àquilo que entendo ser minha vocação. Procuro inovar, estimular e poucas vezes vejo resultados. Mas continuarei a semear crendo que, mesmo que não veja os resultados, saborosos frutos minhas sementes uma dia darão.


"Os que com lágrimas semeiam com júbilo ceifarão" Salmo 126.4


segunda-feira, 19 de outubro de 2009

ANGÚSTIA ETERNA


hoje não amanheci bem. sabe quando sentimos que não estamos nos melhores dias? Pois é...Horário de verão (detesto!), um tanto de serviço atrasado pra entregar, e o que é pior, uma angústia que beira a depressão.


Mas as coisas estão bem. Dei minhas aulas, aliás, vendi-as. Levei minha querida esposa à academia, mas o coração pesou ainda mais. Conversei com meu amigo Betão, e logo compreendi um pouco do que significava aquela agonia. Compartilhamos nossas santas heresias. Na verdade não chegamos a lugar algum, mas quem disse que precisamos chegar? Velhas dúvidas geram novas, e assim por diante.


O conteúdo do nosso papo me remeteu a Reforma Protestante do século XVI. Várias pessoas não estavam conformadas com o rumo que a Igreja estava tomando. Poder centralizado, venda de indulgências, opressão e culpa sobre o lombo dos fiéis, etc... O hecatombe culminou com Lutero e suas noventa e cinco teses. Oba, enfim estamos livres do domínio opressor!


Livres?, que nada. Infelizmente, olho à minha volta e vejo a mesma opressão com novas roupagens. Vejo um clero (nem todos) que continua condenando os fiéis ao fogo do inferno, ou amaldiçoando pessoas(aqueles que não se adequam ao sistema) em nome de Deus. Subjugar os mais simples com máscaras espirituais. Também vejo centenas de pessoas tentando se adequar ao que os "santos homens de Deus" determinam, (até não aguertarem mais) debaixo de uma autoridade sacerdotal. E eu pergunto: onde está o sacerdócio universal?


Jesus, precisamos de uma nova reforma! Mas não de fora para dentro, e sim de dentro pra fora. Aprender a caminhar com o Mestre sem o cabresto hipócrita da religião. Ele é maior do que isso.


Anseio amizade sincera do Senhor Jesus. Sem culpa. Sem julgamentos. Simplesmente o amor singelo daquele que nos dá (graça) a paz que excede todo o entendimento, sem pedir nada em troca, a não ser a disposição de o seguir-mos mesmo sabendo quem somos - humanos!

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

CAMINHOS


Já faz tempo que me sinto estranho, como um carro que vinha muito bem na rodovia, mas sem perceber, foi se desgovernando e acabou perdendo-se numa curva, sem conseguir retornar.

Escrevo isso para tentar exorcizar alguns demônios. Barulhos, inquietações internas que ao invés de se aquietarem, aumentam consideravelmente à medida que o impiedoso tempo passa. Essas demônios são implacáveis, deixam claro desde a hora que acordo até quando me deito, que estou encalhado ao lado da rodovia, sem a possibilidade de retorno.

Bom, talvez não seja o único a me sentir assim. Algumas coisas que me faziam sentido, aliás, que talvez fossem o sentido que a tanto procurava, hoje não passam de sombras. Arquétipos de uma vida passada... Me identifiquei muito com Sartre em sua auto-biografia "As palavras", sentindo-me como um passageiro que tomou o trem errado, ou que não tinha uma exata noção do onde ou do porquê de estar ali. Lembro que sou passageiro somente quando me cobram a passagem... Aliás, cobradores existem aos montes!

Nasci e fui criado num lar de tradição protestante. Desde cedo sabia que era do "exército de Deus", talvez algum tipo de "Al-Qaeda gospel". Aprendi o que era o certo e o que era errado. Fazendo o certo mandaria tijolinhos para o céu. Fazendo o errado...bom, acho que nem preciso falar. Apesar de todo o "treinamento espiritual", não consegui ver sentido naquilo e procurei tomar novos rumos.

O tempo passou e tive uma real experiência com o Transcendente. Sim, talvez não pareça, mas não tenho problemas com Deus. Na verdade, sou apaixonado por ele. Mas por que não consigo retornar à rodovia?

Certas coisas estão acontecendo. Algumas leituras, pequenas gotículas da graça que há tempos não percebia, estão mexendo, revolvendo a terra do meu árido coração. Isso tem a ver com o Emanuel, aquele que prometeu a sua presença, que nunca me deixaria só.

Percebo que foi Ele quem me tirou da rodovia na qual estava. A auto-estrada do modelo religioso, do legalismo e do domínio hipócrita, que com vestes farisaicas tenta governar a vida daqueles que somente querem um relacionamento com o Pai. Não, não sou contra estas pessoas, muitos considero como amigos. Na verdade sou contra idéias. Aliás, também agi durante muito tempo assim, tentando ajudar através do domínio. Isso me secou!

Hoje começo a perceber, que não é pra rodovia, para a auto-estrada que devo retornar. Logo ao meu lado há um caminho, ele é estreito, bem simples. Esse caminho é Jesus, e caminhar nele significa entender quem sou nele e para ele. Aprender com meus erros, mas nunca desanimar, nem deixar que a culpa me impeça de avançar.