sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Medos


Quando eu era criança, de vez em quando ia visitar a tia Nanaia. Lá havia um cachorro chamado lobo, e eu associava-o com o lobo mau. Dava medo. Quando a tia percebia que eu estava amedrontado por causa do "bicho malvado", vinha com sua ternura e lia um Salmo: "Em paz me deito e logo pego no sono porque só o Senhor me faz repousar em segurança". O medo me deixava, e eu dormia em paz.


Cresci, o lobo morreu faz tempo, mas o medo ainda existe. Ele tira o sono, e não me deixa sonhar. A vida sem experiências oníricas é seca. As vezes me pego lembrando da tia, desejando ouvir aquela singela voz recitando o Salmo. Agora os medos são outros, a maioria deles eu mesmo cultivei. Experiências passadas que traumatizaram e volta e meia sussurram o meu nome. O presente não é saboreado porque fico olhando pra porta com medo dos lobos entrarem. Eles uivam...


O futuro fica comprometido por causa dos lobos do passado, e os uivos do presente. Gosto do filme "Motoqueiro fantasma", principalmente por uma frase que o protagonista repete pelo filme: "eu não posso viver com medo". Não dá pra viver em paz angustiado. Não dá pra sonhar atormentado. Mas, medos, quem não tem os seus...


Uma coisa me consola, pois na verdade, o poder de exorcizar aqueles temores, não era da minha tia. Aquele poder que dissipava o mal, estava na confiança com a qual aquelas palavras eram proclamadas. Minha tia não pode estar ao eu lado, mas ainda posso experimentar a força da promessa que pode me fazer deitar em paz e repousar seguro.

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